“Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fl 1,21)
Todos os anos, no dia 2 de novembro, milhares de pessoas visitam os túmulos dos seus entes queridos falecidos. Estas visitas, geralmente, se fazem acompanhar de orações, velas, flores e quase sempre de lágrimas. Uma mistura de sentimentos envolve os visitantes: dor, saudade, presença e ausência. Diante do mistério da morte ficam mais perguntas do que respostas.
A tradição da Igreja sempre exortou os fiéis a rezar pelos mortos. Inspirada em muitos textos bíblicos, ela cumpre o mandato que diz ser “um santo e salutar pensamento orar pelos mortos” (2 Mac 12, 43-46; 2 Tm 1,18). A oração mais importante, que a Igreja oferece pelos falecidos, é a Santa Missa, o sacrifício de Cristo e de valor infinito. Por que cremos na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna, a oração pelos mortos, é a certeza de que a morte não tem a última palavra.
No entanto, sabemos que esse costume só foi oficializado na Igreja, no século X, com Santo Odílio, abade beneditino do mosteiro de Cluny, na França, que instituiu o dia de finados para a sua ordem. A Igreja católica a tornou universal, partir do século XI, por iniciativa dos papas Silvestre II, João XVIII e Leão IX que convidaram os católicos a dedicar um dia no ano aos mortos. No entanto, o dia 2 de novembro só foi institucionalizado a partir do século XIII.
Muitos poderiam se perguntar: Se a Igreja crê na vida, por que oficializar um dia para pensar na morte?
Acontece que a vida tem o sentido que damos à morte, se evitamos falar dela, nossa vida terrena se torna medíocre e cada vez mais aumenta o pânico, as fantasias e as superstições sobre essa realidade que é parte constitutiva da condição humana.
Embora ninguém se acostume com a idéia de morrer, ou de perder as pessoas queridas, a morte nos coloca diante de uma verdade incontestável: a existência humana é breve e “dissolúvel” desde o primeiro instante.(...)
Na morte, estaremos entregues à misericórdia divina. O encontro decisivo com Deus vai acontecer numa esfera de amor infinito, porque Deus quer que o ser humano participe de sua própria vida. Mas será que estamos preparados para esse encontro?
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Rezemos pelos mortos e pelos vivos e com alegria digamos como São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã morte corporal, da qual homem algum pode escapar (...) felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal”.
E não nos esqueçamos que ocupar-se da morte significa ocupar-se com a vida, pois “morrer é parte integrante da vida, tão natural e possível quanto nascer” (Elisabeth Kübler-Ross).
Trecho publicado no Jornal "A voz da Igreja", da Arquidiocese de Curitiba pelo
Pe. Amilton Manoel da Silva, CP