Conforme tantos estudos feitos por gente competente, médicos, biólogos, estudiosos em geral, sabemos que o sofrimento de Cristo na Cruz foi terrível. O cirurgião Dr. Pierre Barbet, por exemplo, depois de estudar 30 anos a questão, afirmou: “Para se fazer bem feita a Via Sacra, é preciso ser santo, ou inconsciente. Eu confesso que não consigo mais”!
Mas eu queria saber bem claro por qual motivo o Sangue derramado de Jesus nos redimiu de nossos pecados e nos deu a salvação. Não basta afirmar, eu quero entender. Nossa fé precisa ser esclarecida. Sofreu por nós! Mas qual o valor objetivo do sofrimento, e por quê? Valorizar assim o sofrimento por si mesmo não é masoquismo? E nós não procuramos com razão fugir dos sofrimentos, ou vencê-los?
Veio-me então a cabeça um exemplo bem simples, que talvez me ajude. Faça de conta que eu fiz no banco um empréstimo de valor bem alto. Assim, contraí com o banco uma dívida. Mas meu negócio não deu certo, e eu não tinha mais condições de saldar a minha dívida. O banco não podia perdoar, e já estava até providenciando a penhora dos meus bens. Mas você, por ser meu amigo, sem me falar nada foi lá e pagou a dívida, que era só minha. Estou quite com o banco, ao qual não devo mais nada. A você também não devo nada, porque não foi um empréstimo que eu teria que devolver, foi puramente um ato de doação de sua parte, ou seja, de amor. Agora minha dívida é de gratidão para com você. Tenho de ser seu amigo, definitivamente, porque amor com amor se paga.
Aí esta a questão. Foi Deus que nos deu a vida e tudo de bom que ela encerra: nossa existência, nossa inteligência, nossas capacidades, nossa saúde, nossa família e todas as riquezas psicológicas e espirituais que constituem o nosso mundo interior. E todas as riquezas da natureza ao redor de nós, para o nosso sustento. Tudo dom gratuito simplesmente. E dado que “amor com amor se paga”, contraímos para com Deus uma dívida de amor: necessidade de uma resposta de amor ao amor que Ele nos deu. E aí veio a nossa imensa ingratidão, achamos que tínhamos o direito de sermos felizes do nosso jeito, como o demônio prometeu: “sereis como deuses”. Com todas as consequências. Temos uma inteligência, somos livres, não precisamos mais de Deus. Isso é o pecado.
Dado que o amor de Deus é infinito, infinita se tornou a gravidade da nossa rebelião, e nunca teríamos condição de pagar essa dívida. Dívidas de amor não esqueçamos.
Mas Deus, amor infinito, encontrou a solução: tornou-se homem, igual a nós em tudo, assumindo a nossa natureza humana, na Encarnação. Aí está Jesus Cristo! Que na sua vida terrena não fez outra coisa se não amar e ensinar o amor: a Deus e ao irmão. Caminho único para a gente se encontrar com Deus e voltar a seu convívio: “Eu sou o caminho, ninguém vai ao Pai senão por mim”.
Mas falar de amor a quem não quer saber de amar é mexer na ferida, e isso incomoda tanto. Bastava Jesus calar a sua boca, não teria incomodado ninguém, e ninguém o incomodaria também. Mas não! Sua missão era essa: ensinar o amor, amando. Por isso o prenderam, o açoitaram, o crucificaram e o mataram! E Ele lá da cruz continuava ensinando o amor: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!” Assim Jesus levou o seu amor, pelo Pai e por nós, até o ponto máximo, a morte, o seu sangue todinho derramado, naquele oceano de sofrimento. Assim Ele pagou ao Pai a nossa dívida de amor.
Com o Pai estamos reconciliados, pelo sangue de Jesus Cristo! E dado que “amor com amor se paga”, agora nossa dívida de gratidão é para com Jesus Cristo: Amar ao Pai e aos irmãos como Ele amou comprometer-nos com Ele, viver em nossa vida os valores que Ele viveu, trabalhar para que todo mundo O conheça e O ame. Isso é ser cristão!
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Por Frei Estevão Nunes op |